- Eu virei cavaleiro da lua quando abriram as portas do inferno, e lutei com o diabo na rua em que deus decretou o eterno.
Meteoros cruzam os céus como os fogos de artifícios em dias de ano novo. Sereias fogem do mar com rostos preparados para batalha. Terremotos reorganizam nações e oceanos giram e giram em seus contos do número final de seu recital musical. Os Senhores dos ventos cortam o fogo que invade nossas ruas e chuvas fazem caminhos inversos e do chão sobem para banhar os céus.
Cavaleiros dourados invadem nossas TVs, algo fantástico de acontecer, pois a única energia elétrica que vejo de pé é a dos raios que cortam o que sobra dos céus. Então como conseguimos ver TV? Esses cavaleiros lindos e coloridos por cores fortes e bem visíveis, falam em minha língua. Falam coisas confusas que nem meu doutorado faz compreender.
- Amor, o que está acontecendo?
Mas uma pergunta das muitas feitas a mim que não sabia responder. Sempre fui movido por uma passagem bíblica. “Há quem muito foi dado, muito será pedido; há quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. Lucas, 12:48.
Sempre vive em base disso, tive uma educação exemplar e base familiar. Melhores escolas e bons amigos que me ajudaram nas mais várias oportunidades. Obtive minha graduação e emendei em minha pós, que logo virou mestrado e se transformou em doutorado com especializações no exterior, que consegui com o meu emprego público. Sou católico desde que nasci e não falto uma missa aos domingos e ajudo em que posso os grupos que já participei antes de me casar com uma mulher sem religião.
E com toda a minha bagagem de vida só conseguia sair uma coisa de minha mente.
- Só pode ser o apocalipse meu amor.
Ao contrário de todos em minha volta, fui incapaz de chorar, rezar ou sentir qualquer tipo de medo. O mundo está acabando em minha volta e a única coisa que consigo pensar é que como minha mulher fica linda com a luz da lava que destrói o meu bairro. O fim chegou e estou tranqüilo, o que mais posso dizer além que fiz o meu dever?
Então os Cavaleiros se alinham e começam a finalizar o seu lindo discurso, mas agora ao invés de não compreender o que dizem, eu consigo perceber que até o mais idiota dos seres humanos, conseguiria entender o que estava acontecendo. A minha suspeita sai do campo da especulação e entrou no campo da certeza, quando um dos cavaleiros se expressou:
- Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte!
Normalmente vindo de um cavaleiro do apocalipse, essa frase seria motivo de comemoração, mas já deu para perceber que serão poucos dignos para aniquilar a morte. Dessa vez eu não consegui me conter após se abraçar com minha mulher. Eu vou morrer ou vencerei a morte? Tenho algo a vencer ou só tenho a perder? Chorei, chorei ao ver os olhos de minha mulher cheios de lágrimas.
De repente sou atraído para a minha frente e vejo a figura de um homem em minha frente. Nunca pensei que conseguiria ver a bondade em pessoa em minha frente, mas eu vi. Não tinha dúvida alguma que em minha frente estava Jesus Cristo, mas ao contrário que imaginei, não o encontrei rindo ou feliz, ele estava triste e angustiado e como chegou sumiu de nossas frentes e houve dois segundos de silêncio.
Meu coração queria disparar, mas só conseguiu ficar com seu batimento calmo e ritmado. Queria gritar e me mexer, mas só conseguia ficar imóvel e calado. Queria olhar em toda a minha volta, mas só conseguia olhar para o alto, pois era pro alto que eu estava indo. Estava flutuando como algumas pessoas em minha volta, mas não estava voando. Estava sentindo uma mão dura e quente que me levantava sem nenhum esforço.
Subia e subia e só conseguia subir cada vez mais, e quando quase não dava para ver quem estava no chão, eu avistei a minha esposa. Minha esposa, meu cunhado e sua esposa estavam ao chão e olhando para mim aos prantos, e eu só conseguia subir cada vez mais.
Mas o meu coração ritmado foi ficando cada vez mais acelerado.
Mas minha voz abafada conseguia cada vez mais reproduzir um som que aumentava com o tempo, até se transformar em grito.
Mas meu corpo imóvel se debatia em movimentos leves, que logo se transformaram em movimentos descontroláveis e violentos.
E só conseguia olhar pra região que se encontrava minha mulher.
Chegou a um ponto em que todos só conseguiam olhar para mim e fui cercado por pássaros. Pássaros não. Tinham asas e voavam, mas não eram pássaros, eram anjos, tem forma humana e são figuras intimidadoras, mas como Jesus, eles são lindos pelo tamanho de sua bondade que escorrem pelos seus olhos.
- Porque está tão triste e perturbado?
- Fique feliz irmão, está indo para a casa do Senhor!
Eu consegui ficar mais desesperado nesse momento, se eu estava indo para o paraíso, para onde estava indo minha mulher?
- Minha mulher ficou! Minha mulher ficou! Eu preciso ir buscá-la! Eu preciso!
Os anjos se olharam e com tranqüilidade exclamaram.
- Calma irmão, o apocalipse chegou separando os justos dos não justos e cada um terá o fim que fez por merecer.
Eu fiquei perplexo ao ter a certeza donde minha mulher estava indo.
- Eu preciso buscá-la, ela não pode ir pro inferno, não pode, eu a amo!
O Anjo me tocou e eu fiquei totalmente imóvel e calmo nesse momento.
- Você não está perdendo o seu amor, você está indo em direção do amor!
Outro me olhou e disse.
- Deus é amor, e é lá que você vai viver de amor!
Nessa hora eu não me debati ou gritei, simplesmente eu respondi.
- Como eu posso viver no amor, se esse amor me faz perder a causa de conhecê-lo?
Os anjos recuaram nessa hora e conversaram entre si.
Então um deles me tirou uma espada de um espaço que desconheço e entregou em minhas mãos e disse:
- Então irmão, busque o mensageiro do seu amor para viver no grande amor.
Eu segurei o objeto metálico mais exuberante que vi em toda a minha vida, aquele metal era tão lindo que tive certeza que não era metal, então perguntei.
- Por que essa espada?
O anjo abaixou a cabeça e respondeu.
- Não vejo possibilidade de entregar um justo no mundo dos injustos, sem ao menos poder se defender.
Nessa hora a mão que me levantava desapareceu da palma dos meus pés e eu cai como um foguete em direção ao chão. Caí muito rápido, como uma bala de guerra percorrendo uma parte do campo de batalha e cai. Cai no chão com um baque tão grande, que a terra tremeu mais com minha queda, do que com os anteriores terremotos.
Então me levantei com a espada na mão e vi o meu amor chorando de joelhos no chão, mas ao contrario do que pensava, ela não olhava para mim, ela chorava e olhava para frente. Então resolvi olhar para a frente e tive uma figura diferente de todas que tinham visto no apocalipse.
Em minha frente estava um homem alto e lindo, mas em seus olhos, eu não via amor. Pelo contrário eu via algo tão ruim, que eu nem sei como descrever em palavras.
- Eu virei cavaleiro da lua quando abriram as portas do inferno, e lutei com o diabo na rua em que deus decretou o eterno.
Texto de Leandro Ferreira
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