Texto de Raiane Mendes
Às vezes queria ter um poder. De apagar tudo isso. Não ter nenhum contato com as pessoas que habitam minha mente e às vezes me fazem cometer indiretamente algumas loucuras. Sim, se não é loucura, é o quê? Se eu estou deitada, lembro. Estudando. Ouvindo música. Ah, como penso nisso! Nessa semana, peguei o metrô. Grande coisa! Alguém diz, quando não observa a magia dos lugares e detalhes que me remetem algumas lembranças. Passaria despercebido se nesse lugar tão peculiar eu não estivesse na direção do seu encontro, da concretização de um algum sonho adolescente. Também não ligaria se nele não recebesse uma ligação sua perguntando minha localização. Como é bom! E pra terminar, se nesse mesmo transporte, você não estivesse me esperando na porta. Vejo-me frágil e utópica, mas esperançosa. Sonhando algo que eu sei que aconteceu. Um encontro. Andando pelas ruas que me fizeram diva por alguns minutos ao vento. Ajeitando minha coluna para parecer mais alta e conferindo o cabelo. Lá estava eu, finalmente. Esguia, sorridente. Eu te encontrei. E quando isso acontece, não acontece nada.
Você está lá e precisa se comportar como mais uma habitante comum desse planeta. Sonhar, naquela hora, não seria muito adequado. A mente fervilhando ideias, inseguranças e expectativas que seriam extrapoladas ou quebradas. O que falar? Mas, Deus, o que faço aqui? Não sei. Mas a felicidade enchia meu peito e eu poderia responder oitocentas perguntas sobre esse êxtase com os olhos brilhando. Sim, perfeito. Bonito? Até mais. Exatamente como eu via em sonhos, e era. Real. Concreto. Olhos, acessórios, boca, nariz. Nariz que sempre admirei. Poderia passar aquelas cinco horas só fazendo isso. Olhar, comemorar, descrever, compor sobre aquilo. Poderia passar deitada em um jardim idiota olhando seus olhos negros se destacarem da paisagem de tirar o fôlego. Eu poderia perder o fôlego. Era isso. Se não perdi, essa história não acabou.
Ainda ofego quando passo e vejo o prédio que você gosta, fotografa. Um prédio que aos meus olhos na infância era mais um que se destacava da baía. Hoje, um símbolo de resistência e sofisticação que você admira. Mas, sério. Por que até a Cidade do México, se eu fosse, me faria lembrar disso? Não sei, é um enigma. Ou a sua pluralidade ou minha capacidade de imaginar todos os lugares estranhos sendo desbravados por mim e você. Esse é meu sonho. Enquanto o vagão se deslocava, eu me emocionava. Sentia o cheiro daquele dia, das pessoas. Pareciam as mesmas. Figurantes que compunham aquele cenário perfeito. Já bem longe, podia ver algum rastro daquela paisagem sendo deixada pra trás. Lá estava ela. Intacta, esperando um novo acontecimento. A minha dúvida a deixa esperar. Espero que continue colorida quando eu retornar. Espero ainda sentir o cheiro do couro, da brisa. Espero ouvir a voz louca cantando. Espero deslizar por aí em qualquer lugar boêmio, que me será digno. Sinceramente, espero outra vez encontrar você
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